20 de ago. de 2009

O SOL NASCE TODOS OS DIAS

Estou estupefacto com a badalhoquice e desconsideração das pessoas a si mesmas...
Bem sei que as pessoas são egoístas e não movem uma palha pelos outros, mas ao menos que a movam por si, já era algo de positivo.

Nas traseiras da minha casa existe um jardim bem conseguido e estruturado de forma a agradar a todas as idades.
Tem inclusive uma zona relvada com sombra de pinheiros para os que gostam de se deitar.
Tem romanzeiras que dão belas flores e frutos, enormes eucaliptos que oferecem um cheirinho caracteristico e abrigo aos inúmeros pássaros que por ali passam e vivem...
Tem também um fantástico anfiteatro aberto ao ar para os que ali quiserem representar ou cantar algo, tem escadas a fazer de assento e pergulas de trepadeiras floridas a fazer sombra aos que ali se sentam a descansar.

Existe um parque infantil dedicado aos mais novos, com regras de segurança e jogos inúmeros onde é possível inventar castelos e demais fantasias. Um bar todo envidraçado com uma bela esplanada virada para um lago onde vivem peixes vermelhos para deleite de todos e onde os pássaros vão também bebericar agua.
Tem ruas calcetadas que deambulam por todo o jardim, criando recantos de maior privacidade e de convívio também,
Tem um poli desportivo onde se pode jogar futebol, basquete ou o que nos apetecer.
Tem plantas e árvores sortidas que crescem dia após dia e oferecem sombras maravilhosas nos dias de maior calor e aquele cheirinho de terra molhada cada vez que a rega automática se inicia ou a relva cortada nos dias em que as maquinas trabalham a aparar.

É lindo o jardim das traseiras da minha casa. Não fossem as pessoas uns imundos e tudo isto seria possível...
No inicio ainda chegou a ser assim, talvez durante um mês, talvez menos...
Rapidamente tudo se desfez e as mesmas pessoas que frequentam o jardim que vos descrevi acabaram por o destruir.

Já nada quase está assim, sobrevivem os eucaliptos enormes porque as pessoas não os conseguem trepar para lhes arrancar a folhagem e mesmo assim, ai se algum rebento nascer mais baixo.
As sombras desapareceram, os peixes morreram pela quantidade de sujidade e porcarias que as pessoas colocam no lago, o café fechou e a esplanada desapareceu, o parque das crianças é vandalizado todos os dias e utilizado para secções de tudo e onde grupos de vândalos se encontram para fumar charros escondidos. O poli desportivo foi totalmente roubado e nada existe ali...
Isto para não falar da quantidade de grafites horrendos que proliferam em todo o lado como bolores em casa húmida.

As plantas, pois, as plantas morrem a olhos vistos por mais cuidados que os jardineiros tenham.
Demasiados cães nas redondezas mijam e cagam repetidamente na relva sem que os donos se importem com isso e recolham os dejectos e, o que não morre pela acidez da urina, morre atropelado pelos carros que estacionam em cima das plantas e alguns arbustos, destruído também o sistema de rega automático.

Tudo se queima, tudo se rouba e quando parece que mais nada existe para destruir, ainda se quebram as árvores novas e se rebentam com as ripas de madeira dos bancos de descanso, sabe-se lá porquê e talvez porque sim!...
Diariamente montes de lixo, inclusive domestico, é deixado no meio das plantas e pelos caminhos, não porque não exista caixotes, eles estão lá, vazios...
Da mesma forma que não se sabe como podem as pessoas conviver com isto, viver esta realidade tão feia e nada dizerem, nada fazerem.
Provavelmente são mais felizes a olhar para um monte de esterco do que para um canteiro de flores.

Este é o jardim das traseiras da minha casa, em Benfica, mas poderia ser o de um outro local qualquer, pois isto não tem a ver com zonas habitacionais mas simplesmente com pessoas, pessoas que não sabem o significado de viver... apenas o de existir e mal.

Há efectivamente de tudo e a verdade é que o sol quando nasce é para todos, mas somente muito poucos conseguem apreciar essa luz.

Somos o que comemos e os nossos filhos aprendem depressa. Que belo presente lhes deixaremos, que memoria bonita teriam de tudo o que nunca viram.