7 de nov. de 2010

ABANDONO / ADOPÇÃO

Já há uns 3 dias que via na rua um cão desconhecido a deambular por ali... Não era velho mas também não aparentava ser novito.
Chamou-me atenção a primeira vez que o vi, pois parecia-se imenso com a minha cadela, a Maria, só que era um pouquito mais claro.
Tinha ido á rua passear o Fred e como decididamente ele é um "cão simpático" e que não ladra a ninguém nem a nenhum cão (nunca vi um cão tão dramático/furioso), lá se lançou a puxar pela trela e a ladrar a um cão que tinha avistado na rua, era o tal... Não liguei pois achei que o cão deveria pertencer a alguém, é comum na minha zona as pessoas passearem os cães sem trela, independentemente de ser proibido ou não,e ai de quem faça algum reparo, arrisca-se a um filme de escândalos ali mesmo!

Quero acreditar que todos os cães são dóceis, mas há que não esquecer que tal como nós também os animais têm humores e podem realmente ser imprevisiveis,mas vá-se lá meter isto na cabeça das pessoas... Talvez quando saírem disparados atrás de algo e forem atropelados ou quando se emaranharem em lutas com outro que ande solto também ou se atirem a uma criança que por ali andava só porque sim... Talvez na desgraça as pessoas aprendam, mas duvido, talvez o cão leve uma tareia do dono e tudo fique como sempre foi... Acho que ninguém quer entender que muitas vezes por viverem tão em contacto connosco os animais acabam por ter determinados desequilíbrios que não são bem desequilíbrios mas talvez alterações comportamentais que os podem tornar imprevisiveis, como as pessoas...

Pois que não liguei ao cão e tentei puxar o meu para longe d a visão do outro, no entanto por ser tão igual á Maria fui virando a cabeça para trás...
Acho que foi aí que fiquei com a sensação de que o cão andava abandonado,mas segui...

Nesse dia á noite tive a certeza do abandono. estava á janela e pude ver o cão a deambular pela rua sozinho e passando mesmo debaixo da minha varanda pude ver que estava com o pelo mal tratado e sujo em algumas partes. Tentei chamar o bicho, fazer com que me visse,pois queria atirar-lhe um pouco de fiambre da janela. Lá me olhou e quando lhe mostrei que iria atirar algo para o chão, ele fugiu amedrontado e com aquele ar de quem já tinha passado um mau bocado. Fiquei triste pelo animal e por nada poder fazer, já tinha uma gata e dois cães adoptados, não podia mesmo...

Dentro de casa fiquei a pensar o quanto os meus animais eram mimados e demais amados, cheio de pena por todos aqueles que são deitados fora como se de um trapo velho se tratasse.
A Maria olhava para mim com aquele ar de preocupação e pensei na sorte que ela tinha tido depois da desgraça de ter sido deitada fora por alguém que não a quis mais no seu coração e na sua vida.
Quem seria tal pessoa, como conviveria com tal atrocidade, que pensaria quando escutava conversas de outras pessoas sobre abandonos e adopções!? Se calhar era uma daquelas pessoas que bate com a mão no peito e se enche de lagrimas com a facilidade de quem se liberta do animal que jurou cuidar um dia.

Pensei nas pessoas que dizem gostar de cães,de gatos e outros pets afins e ao fim de algum tempo é o que se vê, animais na rua...Mas porque raio as pessoas têm animais?
Claro que todos os cachorrinhos são um mimo de lindos, mas todos sabemos que eles crescem e que enquanto crescem vão dando muito trabalho e muitos cocós pelo caminho... Muito tapete e sofá estragado e muita coisa roída e é aí que começa a consciência da adopção e muito cão acaba na rua.
Também há os velhotes que nos fazem gastar muito dinheiro em veterinários e, privações para cuidar do animal que estive connosco toda a vida não parece conveniente para a maioria e mais uma vez o animal acaba abandonado em local desconhecido.
As ferias, a mudança de casa, o divorcio,o novo namorado ou namorada que não gosta do animal,a falta de tempo ou paciência, o dinheiro... tudo serve de motivo para colocar o cão na rua e se seguir com um sorriso novo na boca como se nada tivesse acontecido, pelo menos para a pessoa pois o animal seguramente que não pensará assim quando se vir em parte incerta, exposto a um mundo desconhecido, cheio de fome e de frio.

A Mariana

A Maria

A Maria e o Fred

Nunca me esquecerei da cara dos meus amigos, a maioria com animais, quando um dia numa saída nocturna eu disse que tinha que me ir embora pois tinha os animais sozinhos em casa á muitas horas. Os comentários mais estranhos vieram dos que tinham animais:
- Estão a dormir,estão na boa!
- São dois, estão entretidos!
- Eles aguentam e não te fazem nada em casa!
- Eles fazem na varanda não precisas de os levar á rua!
-Têm comida e agua,estão bem! etc... etc...
Pois é,tudo isso era verdade mas o facto é que eu tinha saudades e sabia que eles também pois faltava um elemento na "matilha" e esse elemento era eu. E quando um amigo me disse que eu preferia os cães aos amigos eu respondi que tal comparação não era digna de ser tomada em conta e fui feliz por ter estado alguns momentos com os meus amigos e por ir ter com os meus outros amigos, a Maria, o Fred e a Mariana, os meus animais.

Quando ia de ferias para casa da minha avó na província que tinha dois gatos,o Benfica e o Tareco e um cão de nome Farrusco, deparei-me com o facto de um tipo de cultura muito próprio das pessoas do campo com os seus animais,pois todos têm uma função e agora até o entendo...
Ela não nos deixava dar comida aos gatos pois dizia que se eles não tivessem fome não caçariam os ratos e ao cão não podíamos fazer festas em demasia pois ele passaria a gostar das pessoas e não defenderia a casa convenientemente.
Por acaso alguma vez encontraram algum aldeão activo com um Caniche,um Yorkshire ou um Bulldog francês por exemplo!? Claro que não e sabem porquê? Porque não são cães rústicos e não lhes servem para nada.
Já na cidade a conversa é outra e esses cães têm grande utilidade, uma utilidade emocional, sendo assim não entendo como podem as pessoas pôr os cães a andar de forma tão horrenda.
Na província ninguém abandona os seus animais, não os mimam nem andam com eles ao colo mas protegem-nos e cuidam deles para obterem o seu melhor e quando velhos permitem-lhes alguns luxos maiores como mimos alimentares e calor sempre dentro de casa.

Na província, os rafeiros são os preferidos, na cidade não e não é por se pagar quantias por vezes exorbitantes por um cachorro da mais pura raça que ele será bem tratado.

Não entendo como podem as pessoas deitar fora as emoções conquistadas e trocadas com um animal, depois de tudo o que se viveu e se criou, não entendo...
A única justificação que vejo são aquelas iras que os humanos mais fracos têm uns sobre os outros quando as coisas não lhes correm de afeição e imaginam desgraças, ódios e por vezes a morte do outro. Obviamente que não passam á acção, não o poderiam fazer por cobardia e medo da justiça, mas com os cães e gatos tudo é mais fácil e podem livremente dar azo aos seus ódios e frustrações pois acredito que é disso que se trata, de frustrações e incapacidade de lidar permanentemente com elas. Não se aprende nada na vida e quem sofre são os animais...
E todos sabemos disto, pois não é em vão que se fazem testes e testes para a adopção humana e mesmo assim nunca se tem a certeza, porque raio não se faz o mesmo para os animais!?

O cão continua abandonado e a vaguear pelas ruas indiferente aos olhos dos passeantes, vou deixando comida em locais onde o vejo passar á noite mas não tenho a certeza se é ele que a come e não sei onde dorme ou se acoita nos dias de chuva e frio.

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